Ele entra no carro. Ela estava em prantos. Ele mexe no cabelo, respira fundo, pergunta:
- O que foi agora?
Ela levanta o rosto, enxuga a última lágrima, olha pra ele, e ainda soluçando responde:
- Eu me apaixonei.
Ele não entende. Afinal, ela nunca foi muito fácil de entender. Ele arrisca:
- E o problema nisto é...?
Ela se irrita, bate no volante tantas vezes, com tanta força, que acerta a buzina, assustando o cachorro preto que deitava em frente ao carro.
Ela se recompõe, ajeita o cabelo e repousa sua mão direita sobre o lado esquerdo do rosto dele:
- Você não vê?
Ele não sente nada:
- Não.
Ela devaneia. Os olhos se perdem e a mão morre no rosto dele:
- Eu te amaria pra sempre.
Ela soa robótica. Ele não se importa. Tira a mão dela do seu rosto, e a segura com as duas mãos frias.
- Mas você vai me amar pra sempre.
Ela olha pra ele. Ele sorri. Ela se irrita, se sente debochada, ele nunca a levou a sério, os olhos dela acendem como duas fogueiras descontroladas. Ela faz um tipo de relincho, range os dentes:
- Não enquanto eu viver amando outro.
Com a mão esquerda, ela abre o porta-luvas, tira uma arma e a encaixa embaixo do queixo, beija-lhe a boca.
Ela treme, procura um jeito de abrir a porta enquanto o empurra contra ela. Acha. Ele cai no chão, sentado no asfalto.
Inerte, ela olha nos olhos dele e inclina a cabeça ate que esta deite no encosto de cabeça. Chora. Aponta a arma pra si mesma:
- Não se preocupe mais, meu amor.
Atira.
Ele levanta, chama vizinhos, polícia, bombeiros, ambulância.
Entra em casa, toma um banho para tirar o sangue.
Acaba o dia, se deita. Pensa:
-Louca!
Nenhum comentário:
Postar um comentário