sábado, 27 de fevereiro de 2010

Retrospectiva (Maio - 2007)


Vermelho

Uma boca com batom cereja, entre- aberta, com um canudo vermelho encostado no lábio inferior que estava sendo segurado por uma mão branca, de unhas perfeitas e pintadas de café-brasil, de braços nus ligados a um tronco com seios fartos e bem redondos, separados por um decote de um vestido vermelho amarrado ao pescoço, que segura uma cabeça de rosto fino, olhos azuis, nariz empinado e cabelos ruivos, que vão até a cintura fina, seguida de quadris largos, sentados em uma cadeira de madeira, posta atrás das pernas grossas e muito bem cruzadas, de pés pequenos e gordinhos, com uma sandália também vermelha que amarrava no tornozelo e afinava até a ponta de um salto agulha, não teve tempo de fugir do carro desgovernado.


E foi vermelho pra tudo quanto é lado.



domingo, 21 de fevereiro de 2010

II

Quatro da manhã. Quatro da manhã e um bocejo. Quatro da manhã e um latido. Quatro da manhã e dois latidos. Quatro e uma da manhã e três latidos. Quatro e uma da manhã, quatro latidos e um grito. Quatro e duas da manhã, cinco latidos e outro grito. Quatro e três da manhã, seis latidos e outro grito. Quatro e quatro da manhã, som de chineladas e um outro grito. Quatro e cinco da manhã. Quatro e seis da manhã e silêncio: Agora é possível começar.

Agora é possível começar a pensar. É possível levantar da cama e terminar o obrigatório. Quem pode viver assim? Quatro da manhã. Sete minutos… agora. O descanso de quinze minutos agora só vai durar oito. Oito minutos para levantar de novo. O que fazer com oito minutos? O que fazer com quinze? Como evitar o sono depois de doze horas de trabalho obrigatório? O que será que ele me diria? Como seria no futuro? Talvez ele me deixasse dormir. É. Com certeza ele mandaria que eu dormisse. Que da próxima vez fizesse tudo mais cedo. É, com certeza. Eu o conheço bem. Muito bem. Seria assim.

(um minuto de silêncio)

É incrível como não passa uma noite sem que eu faça isso.

(trinta segundos de silêncio. )

Um latido. Ah, mas que coisa! Mas é melhor que eu não durma. Bem melhor. Do contrário como?

(Levanta, liga o rádio, deita.)

Ah... Essa música é muito boa. Muito mesmo.

“And it breaks my heart...And it breaks my heart...”

É quase um...Um... (bocejo) Ai, mas que sono...

“And suppose I never ever met you
Suppose we never fell in love
Suppose I never ever let you kiss me so sweet and so soft
Suppose I never ever saw you
Suppose we never ever called
Suppose I kept on singing love songs just to break my own fall
Just to break my fall”

(dois minutos de um silêncio de distância.)

Acho que não. Não é uma música assim tão boa. É meio estúpida. Enfim. Só uma música. Preciso levantar.

(...)

Ok, eu vou levantar agora.

Tem um pouco de erro bem aqui. Um pouco de erro. Mas eu conserto. É, eu conserto. Se não, bom, não há problema. O problema é não reconhecer o erro. Mas com um pouco de paciência, tudo se ajeita, né? É, é. Tudo se ajeita. Nem que não seja do jeito mais desejado. É, se ajeita. Já to quase terminando. Só preciso de um pouco mais de tempo. É, tempo. É tudo que eu preciso...

“I hear in my mind all of these voices
I hear in my mind all of these words
I hear in my mind all of this music
Breaks my
Heart
Breaks my heart”

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Conheça Hannah

Hoje, meu nome é Hannah. Hoje eu sou a mulher que destruiu seu próprio lar e destrói o dos outros pro seu drama parecer normal. Hoje, meu nome é Hannah. Hoje eu tenho 20 anos e um passaporte pra bem longe daqui. Tenho uma gata laranja que tem nome de planta e as marcas das unhas dela cravadas no meu pulso.  Hoje, meu nome é Hannah, porque de trás pra frente eu sou a mesma pessoa. Porque eu não mudo o meu lápis de olho preto e nem meu batom sem cor. Hoje, os olhos têm um brilho diferente e a voz desafina quando alcança gritos agudos. Hoje eu não me importo com as pessoas que me abandonam, porque a mim, ninguém abandona. Eu não me importo hoje com o que dizem de mim pelas costas, porque a verdade precisa ser dita. Hoje, acabou o brilho no olhar, porque Hannah tem os olhos cor de cegueira progressiva: um azul opaco e totalmente sem vida. Hoje...

Hoje eu ...

Hoje eu sou Hannah, porque não me cabe mais ser outra pessoa. Hoje eu sou Hannah, porque Hannah é minha e está comigo. Hoje eu sou ela, porque sendo ela eu não sou só. Hoje, pelo menos hoje, eu sinto Hannah mais eu do que qualquer outra pessoa. Porque Hannah é fria, Hannah é só, Hannah é má, Hannah possui todo e qualquer ser em desespero. Hannah, sou eu quando durmo, quando choro, quando me irrito, quando grito, quando morro. Hannah é só e eu sou só. Hoje eu sou Hannah porque só Hannah é como eu. Só Hannah é meu oposto sendo uma só, e só eu sou Hannah sendo várias pessoas. Hoje, Hannah, tu recebeste teu primeiro sopro de vida.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

I

Ela poderia aproveitar o aperto no peito para dizer tantas coisas, que deixaria a todos pasmos e um tanto boquiabertos. De fato não se tratava de alguém sentimental, ou até mesmo, alguém que possuia qualquer sofrimento que fosse. Mas mesmo a maior das árvores sangra quando lhe arrancam algumas folhas.

Aquele era o momento de se calar. Ela encarava a todos com os olhinhos cheios de sabedoria e pouca idade. A boca se comprimia como se presenciasse algo nojento, fora de sua natureza. E ela suspirava tão fundo que algumas pessoas, aquelas que ousavam estar ao seu lado, sentiam um pouco de tontura pelo ar rarefeito.

Impaciente. Sempre impaciente com pessoas. Pessoas, eu repito. Amores, nunca! Enquanto não fosse machucada, os amores sempre tiraram de dentro dela a paciência como sua maior virtude. Quando sim, ela revelava um poder de invisibilidade tão forte que anos se passavam até que pudessem ver o brilho de seus olhinhos pequenos novamente. No entanto, nunca mudava. Era quase como se ela se mantesse congelada e depois de acordada, estava livre, leve, linda e com mais anseios por sonhos bons. E todos continuavam a amá-la.

Mas naquele minuto, ela estava lá, julgada por um bando de sanguessugas. Eles a cansavam, eles a aborreciam. Pessoas: "Bichos..." E ainda queriam que ela sorrisse. Eles queriam que ela sorrisse com simpatia e satisfação de estar junto deles. Mas não. Não ela. Pessoas de outro mundo nem sempre conseguem se encaixar. "Nem sempre."

A distância era sempre um alívio. Correr era sempre uma libertação. Sair correndo era, no mínimo, o sentimento mais perfeito de todos os mundos nos quais ela ja pisou. E correu tão rápido que o corpo se sentia leve. E no minuto que tentou atravessar os ares, sentiu a dor do chão.

Ninguém a viu chorar tanto. Ninguém a viu chorar. Ninguém a viu. Ninguém.

Era como se sumisse. Como se seu poder, ou a vontade de tê-lo viesse resgatá-la. Mas ao olhar para cima ela viu. Uma luz. E brilhava tanto que não conseguia evitar a dor nos olhos. Muita dor. Que passou para o corpo e tomou o peito. E era isso. Era hora de ir. Era hora de ir! Ela sorria e chorava porque era hora de ir. Era o chamado de casa. E ela foi. Não foi mais vista. Aquela triste menina sozinha nunca mais foi vista.

Agora é só um sorriso.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Entenda.

Olá!

Aqui um blog talvez não muito diferente dos outros, e nem tão inovador em termos de escrita. Porém, eu sempre fui uma pessoa que me inspirei em pessoas conhecidas para escrever, apesar de não ser exatamente um costume. Tenho uma personagem que se chama Hannah e que foi inspirada em mim, ou na minha versão oposta, com todos os costumes que gostaria de ter e não tenho talvez por falta de coragem.
A minha idéia dentro deste espaço é criar várias Hannazinhas como cópias fiéis das pessoas que me rodeiam, para que elas (vocês) saibam o que eu, reles mortal, penso de cada um. Serão cartas em formas de conto que mostrarão meus sentimentos de amor e talvez ódio pelo maior número de pessoas (que eu conseguir me lembrar) que esteve na minha vida.
Eu NÃO vou revelar a quem estão endereçadas cada uma das cartas.
Vista a carapulça se servir. E podem deixar palpites.

Ah, mais uma coisa. A idéia desde blog partiu da leitura deste site, apresentado pela minha queridíssima amiga Heri.

Beijos, aos queridos e aos não. :)