quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Existe um quê de romantismo na madrugada quente desta cidade. Você se imagina planejando sua vida e de repente depois de dez anos você se vê morta sem ninguém para chorar por você. Eu sinto muita falta de ser quem fui... Bom, às vezes. Acho que cresci o suficiente para não me esconder mais atrás de alter-egos deturpados (ou não), e hoje tenho um pouco mais de coragem de assumir que gosto de tapa durante o sexo e nem sempre acho a misoginia a melhor forma de relacionamento, apesar de nunca ter traído o amor da minha vida. Talvez eu tivesse que ser um Pouco mais ousada algumas vezes. Em Outras, eu desejaria segurar mais a minha língua dentro da boca. Mas o filtro não é para qualquer um, não é mesmo?
A verdade é que hoje eu acordei com saudades de escrever. Mas, ao contrário de propostas passadas, hoje não quero falar sobre ninguém. Hoje quero saber de mim. Passei tanto da minha vida preocupada em projetar meus sentimentos na vida dos outros, e preocupada em perceber os outros que esqueci de me registrar por muitas vezes. Muitas. Hoje ainda tenho problemas de dizer quem Sou. Hoje ainda descubro quem sou.
Tudo que sei hoje, é que eu preciso sentir algumas coisas. Eu preciso sentir frustração, ódio, mágoa, inveja, felicidade, ciúmes, rancor. E as vezes esses sentimentos precisam ficar um pouco mais do que uma pessoa normal ( se é que existe isso)  acharia saudável. As vezes eu preciso ter mágoa com você, entenda isso. Se eu te machucar, pode ser de propósito. Eu faço coisas de propósito. Eu sinto vontade de machucar pessoas que fazem O que julgo errado.
Eu me deixei há muito tempo pra trás, e até hoje não sei porque. Há muito tempo não falo comigo mesma do jeito que mereço. Há muito tempo não olho pra dentro de mim. Hoje isso me incomodou, e por isso eu busquei no passado um pouco de quem fui.
No passado eu era triste,  e machucada. Passei muito tempo achando que era feliz, e hoje minhas mágoas estão vindo à tona de muitas maneiras. Isso precisava sair e agora eu consigo me ver de novo. Ainda sou Hannah, de trás pra frente. Só que com mágoas diferentes.
Eu queria muito me resgatar e aqui eu vim.  Me sinto melhor agora
Tenho que tentar dormir...

terça-feira, 9 de março de 2010

Retrospectiva II

 

Ele entra no carro. Ela estava em prantos. Ele mexe no cabelo, respira fundo, pergunta:

- O que foi agora?

Ela levanta o rosto, enxuga a última lágrima, olha pra ele, e ainda soluçando responde:

- Eu me apaixonei.

Ele não entende. Afinal, ela nunca foi muito fácil de entender. Ele arrisca:

- E o problema nisto é...?

Ela se irrita, bate no volante tantas vezes, com tanta força, que acerta a buzina, assustando o cachorro preto que deitava em frente ao carro.

Ela se recompõe, ajeita o cabelo e repousa sua mão direita sobre o lado esquerdo do rosto dele:

- Você não vê?

Ele não sente nada:

- Não.

Ela devaneia. Os olhos se perdem e a mão morre no rosto dele:

- Eu te amaria pra sempre.

Ela soa robótica. Ele não se importa. Tira a mão dela do seu rosto, e a segura com as duas mãos frias.

- Mas você vai me amar pra sempre.

Ela olha pra ele. Ele sorri. Ela se irrita, se sente debochada, ele nunca a levou a sério, os olhos dela acendem como duas fogueiras descontroladas. Ela faz um tipo de relincho, range os dentes:

- Não enquanto eu viver amando outro.

Com a mão esquerda, ela abre o porta-luvas, tira uma arma e a encaixa embaixo do queixo, beija-lhe a boca.

Ela treme, procura um jeito de abrir a porta enquanto o empurra contra ela. Acha. Ele cai no chão, sentado no asfalto.

Inerte, ela olha nos olhos dele e inclina a cabeça ate que esta deite no encosto de cabeça. Chora. Aponta a arma pra si mesma:

- Não se preocupe mais, meu amor.

Atira.

Ele levanta, chama vizinhos, polícia, bombeiros, ambulância.

Entra em casa, toma um banho para tirar o sangue.

Acaba o dia, se deita. Pensa:

-Louca!

segunda-feira, 1 de março de 2010

III

A menina ainda tentou salvar. Ela ainda tentou salvar aquele relacionamento atrasado, com sexo meia boca e traições constantes. Não se pode culpá-la. Depois de 6 anos, gente é uma coisa que gruda. De um jeito ou de outro, gruda. Eles tiveram medo no começo. Medo de que isso acontecesse. Tanto medo que fizeram promessas. Tantas promessas que nunca conseguiram cumprir todas. Então não conseguiram mais cumprir nenhuma. Então faltou respeito. Então faltou compromisso. Então faltou presença. Então surgiram outros. Então foi apagando. Porque alguém em sã consciência tentaria salvar algo assim? Ninguém vai mudar como promete. Ninguém muda um costume numa velocidade acima de 40%. Eu nunca medi estatísticas, mas 40 é uma velocidade baixa, não é?Se você tiver como base o 100% de uma relação de dois meses. Porcentagem está correto? Alguém aí sabe me dizer quando as coisas parecem ser pesadas demais, ao ponto de quase estancar no meio da estrada sem previsão de partida? Porque alguém tentaria começar de novo? Inércia é uma coisa que acostuma. Levar as coisas no impulso é uma coisa que acostuma. Ela tentou salvar pra fazer a boa imagem de mulher machucada. Mas ela se sentiu tão feliz e livre que quase agradece a ele pela coragem. Mas ela chorou pela consideração, se despediu e passou a noite pensando. No outro dia ligou pro outro, fez o que quis a noite toda sem culpa (o que fez com que o sexo não fosse tão bom dessa vez), depois saiu pra beber com as amigas.

Ele não quis ver ninguém. Queria paz finalmente, o alívio que merecia. Saiu da casa dela, foi para um bar, sentou, pediu uma dose, virou e pediu outra, virou e pediu outra, virou e pediu outra, virou, pediu outra. Respirou, olhou pro jogo do time dela jogando na TV, riu como se aquilo fosse algum tipo de castigo, pensou algumas coisas sobre o acaso e deixou o jazz entrar na sua cabeça. O jazz tinha uma voz e um baixo evidentes. Qual deles não tem, não é mesmo? Não se julgou um bom conhecedor. Poderia estar errado afinal. Mas era uma voz de mulher. Negra, provavelmente, diferente dela. Da menina. A negra deveria ter cabelos curtos, o rosto liso e um vestido prateado que escondesse um belo par de seios e coxas. Uma negra deve ter uma bunda enorme também, não é mesmo? Deve ser uma mulher muito fogosa.

- Ei, seu tarado! Vai beber isso aqui ou não?

“Tarado? Porque alguém me chamaria de tarado se eu ...” ele se pegou com a mão em lugares impróprios. Se assustou. Pediu desculpas além do que devia, deu o drink para mulher ao seu lado.

-Pode ficar, eu já bebi demais.

- Não bebeu. Quatro drinks não é demais. Não culpe a bebida pelos seus fetiches.

- Enfim, quanto deu, camarada?

- Já vai? Eu esperava te conhecer melhor.

E conversaram mais do que deveriam noite adentro. Ela, que era impaciente, convidou o cara para seu apartamento. Ele foi.Em 6 anos nunca tinha tido um sexo tão bom. Nem mesmo com as amantes. Ele segurava ela com tanta força que parecia raiva. Ela enfiava suas unhas tão fortes nele que parecia que ia arrancar pedaços. Parecia querer escrever seu nome nas costas dele.

Entre um gemido e um grito, ele olhou nos olhos dela, que se derretia em cima dele como uma mulher promíscua. Ela era tão perfeita que ele...

- casa comigo!

Ela parou. Olhou pra ele. Ele mereceu o tapa.

- Não. Continua.

E ele o fez. E no outro dia, ele acordou e ela já tinha ido. Ele dormia ao lado de um bilhete que dizia :

- Da próxima vez, traz o anel.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Retrospectiva (Maio - 2007)


Vermelho

Uma boca com batom cereja, entre- aberta, com um canudo vermelho encostado no lábio inferior que estava sendo segurado por uma mão branca, de unhas perfeitas e pintadas de café-brasil, de braços nus ligados a um tronco com seios fartos e bem redondos, separados por um decote de um vestido vermelho amarrado ao pescoço, que segura uma cabeça de rosto fino, olhos azuis, nariz empinado e cabelos ruivos, que vão até a cintura fina, seguida de quadris largos, sentados em uma cadeira de madeira, posta atrás das pernas grossas e muito bem cruzadas, de pés pequenos e gordinhos, com uma sandália também vermelha que amarrava no tornozelo e afinava até a ponta de um salto agulha, não teve tempo de fugir do carro desgovernado.


E foi vermelho pra tudo quanto é lado.



domingo, 21 de fevereiro de 2010

II

Quatro da manhã. Quatro da manhã e um bocejo. Quatro da manhã e um latido. Quatro da manhã e dois latidos. Quatro e uma da manhã e três latidos. Quatro e uma da manhã, quatro latidos e um grito. Quatro e duas da manhã, cinco latidos e outro grito. Quatro e três da manhã, seis latidos e outro grito. Quatro e quatro da manhã, som de chineladas e um outro grito. Quatro e cinco da manhã. Quatro e seis da manhã e silêncio: Agora é possível começar.

Agora é possível começar a pensar. É possível levantar da cama e terminar o obrigatório. Quem pode viver assim? Quatro da manhã. Sete minutos… agora. O descanso de quinze minutos agora só vai durar oito. Oito minutos para levantar de novo. O que fazer com oito minutos? O que fazer com quinze? Como evitar o sono depois de doze horas de trabalho obrigatório? O que será que ele me diria? Como seria no futuro? Talvez ele me deixasse dormir. É. Com certeza ele mandaria que eu dormisse. Que da próxima vez fizesse tudo mais cedo. É, com certeza. Eu o conheço bem. Muito bem. Seria assim.

(um minuto de silêncio)

É incrível como não passa uma noite sem que eu faça isso.

(trinta segundos de silêncio. )

Um latido. Ah, mas que coisa! Mas é melhor que eu não durma. Bem melhor. Do contrário como?

(Levanta, liga o rádio, deita.)

Ah... Essa música é muito boa. Muito mesmo.

“And it breaks my heart...And it breaks my heart...”

É quase um...Um... (bocejo) Ai, mas que sono...

“And suppose I never ever met you
Suppose we never fell in love
Suppose I never ever let you kiss me so sweet and so soft
Suppose I never ever saw you
Suppose we never ever called
Suppose I kept on singing love songs just to break my own fall
Just to break my fall”

(dois minutos de um silêncio de distância.)

Acho que não. Não é uma música assim tão boa. É meio estúpida. Enfim. Só uma música. Preciso levantar.

(...)

Ok, eu vou levantar agora.

Tem um pouco de erro bem aqui. Um pouco de erro. Mas eu conserto. É, eu conserto. Se não, bom, não há problema. O problema é não reconhecer o erro. Mas com um pouco de paciência, tudo se ajeita, né? É, é. Tudo se ajeita. Nem que não seja do jeito mais desejado. É, se ajeita. Já to quase terminando. Só preciso de um pouco mais de tempo. É, tempo. É tudo que eu preciso...

“I hear in my mind all of these voices
I hear in my mind all of these words
I hear in my mind all of this music
Breaks my
Heart
Breaks my heart”

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Conheça Hannah

Hoje, meu nome é Hannah. Hoje eu sou a mulher que destruiu seu próprio lar e destrói o dos outros pro seu drama parecer normal. Hoje, meu nome é Hannah. Hoje eu tenho 20 anos e um passaporte pra bem longe daqui. Tenho uma gata laranja que tem nome de planta e as marcas das unhas dela cravadas no meu pulso.  Hoje, meu nome é Hannah, porque de trás pra frente eu sou a mesma pessoa. Porque eu não mudo o meu lápis de olho preto e nem meu batom sem cor. Hoje, os olhos têm um brilho diferente e a voz desafina quando alcança gritos agudos. Hoje eu não me importo com as pessoas que me abandonam, porque a mim, ninguém abandona. Eu não me importo hoje com o que dizem de mim pelas costas, porque a verdade precisa ser dita. Hoje, acabou o brilho no olhar, porque Hannah tem os olhos cor de cegueira progressiva: um azul opaco e totalmente sem vida. Hoje...

Hoje eu ...

Hoje eu sou Hannah, porque não me cabe mais ser outra pessoa. Hoje eu sou Hannah, porque Hannah é minha e está comigo. Hoje eu sou ela, porque sendo ela eu não sou só. Hoje, pelo menos hoje, eu sinto Hannah mais eu do que qualquer outra pessoa. Porque Hannah é fria, Hannah é só, Hannah é má, Hannah possui todo e qualquer ser em desespero. Hannah, sou eu quando durmo, quando choro, quando me irrito, quando grito, quando morro. Hannah é só e eu sou só. Hoje eu sou Hannah porque só Hannah é como eu. Só Hannah é meu oposto sendo uma só, e só eu sou Hannah sendo várias pessoas. Hoje, Hannah, tu recebeste teu primeiro sopro de vida.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

I

Ela poderia aproveitar o aperto no peito para dizer tantas coisas, que deixaria a todos pasmos e um tanto boquiabertos. De fato não se tratava de alguém sentimental, ou até mesmo, alguém que possuia qualquer sofrimento que fosse. Mas mesmo a maior das árvores sangra quando lhe arrancam algumas folhas.

Aquele era o momento de se calar. Ela encarava a todos com os olhinhos cheios de sabedoria e pouca idade. A boca se comprimia como se presenciasse algo nojento, fora de sua natureza. E ela suspirava tão fundo que algumas pessoas, aquelas que ousavam estar ao seu lado, sentiam um pouco de tontura pelo ar rarefeito.

Impaciente. Sempre impaciente com pessoas. Pessoas, eu repito. Amores, nunca! Enquanto não fosse machucada, os amores sempre tiraram de dentro dela a paciência como sua maior virtude. Quando sim, ela revelava um poder de invisibilidade tão forte que anos se passavam até que pudessem ver o brilho de seus olhinhos pequenos novamente. No entanto, nunca mudava. Era quase como se ela se mantesse congelada e depois de acordada, estava livre, leve, linda e com mais anseios por sonhos bons. E todos continuavam a amá-la.

Mas naquele minuto, ela estava lá, julgada por um bando de sanguessugas. Eles a cansavam, eles a aborreciam. Pessoas: "Bichos..." E ainda queriam que ela sorrisse. Eles queriam que ela sorrisse com simpatia e satisfação de estar junto deles. Mas não. Não ela. Pessoas de outro mundo nem sempre conseguem se encaixar. "Nem sempre."

A distância era sempre um alívio. Correr era sempre uma libertação. Sair correndo era, no mínimo, o sentimento mais perfeito de todos os mundos nos quais ela ja pisou. E correu tão rápido que o corpo se sentia leve. E no minuto que tentou atravessar os ares, sentiu a dor do chão.

Ninguém a viu chorar tanto. Ninguém a viu chorar. Ninguém a viu. Ninguém.

Era como se sumisse. Como se seu poder, ou a vontade de tê-lo viesse resgatá-la. Mas ao olhar para cima ela viu. Uma luz. E brilhava tanto que não conseguia evitar a dor nos olhos. Muita dor. Que passou para o corpo e tomou o peito. E era isso. Era hora de ir. Era hora de ir! Ela sorria e chorava porque era hora de ir. Era o chamado de casa. E ela foi. Não foi mais vista. Aquela triste menina sozinha nunca mais foi vista.

Agora é só um sorriso.